Galha IX : Espírito de cavalo
Espírito de cavalo
1
Quem poidera ter a força e nobreza
e o espírito tam puro e tam digno,
como o que tem um cavalo de raza.
2
Sem barreiras que estorvem òs sonhos,
nim valados que nos impidam amar.
Sem figuras onde pór-se de geonlhos.
3
Que nom nos tapem a luz as muralhas,
que nom deixam ò nosso amor florecer,
nim espertar ventilando as nugalhas.
4
Hei de trotar polo Mundo ata a morte,
sempre querendo-te a passinho lento,
viajarei atrás de ti ao galope.
5
Levando-te da man de cara ao vento,
beberei auga de tódalas fontes.
Nom pararei de querer-te um momento.
6
Atravesaremos todos os montes,
banhando-nos qual cisnes nas lagoas,
durmindo coas flores do pé das pontes.
7
A mim cumpria-me subir montanhas,
eu nom poderia passar sem elo,
sem espertar bem cedo polas manháns.
8
As ánsias pra correr coma um cavalo,
que dende entom ja nom as podo deter,
ao dentro de mim ter o seu espírito.
9
Agora vejo uma luz avistar-se,
polo meu Mundo de real fantasia
e canda mim quero-a trotando sempre.
10
Ir galopando por tódalas terras,
tódalas luas, por tódolos eidos
e ir cantando polas beiras todas.
11
Voar bicando-nos sempre nos beiços
e correr polos sendeiros do Mundo,
amando-nos coma doces meninhos.
12
Subindo às cimas todas, ver o ceo
e presentando-nos às estrelinhas
coma os seus irmaos do gram Universo.
13
Reclamar-lhes a luz pra saudar ao Sol,
deitados ao sol-pór a ver a Lua,
saindo polo horizonte do Mundo.
14
E coas nossas inquietudes e arelas
atravesaremos tódalas pontes,
em pesca das alegrias sonhadas.
15
Com ansia e necesidade de entender,
depois de muito trotar polo mundo,
o que haja que saber para renascer.
16
Um dia espertei coa força dum cavalo,
coa enorme força do seu espíríto,
orgulhoso no seu longo pescozo.
17
Eu colhido na sua crina e montado,
el nom era um cavalo, senom égua
e a crina, uma cabeleira dourada.
18
Fum entom cavaleiro que sonhava,
sentadinho numa pele de seda,
acaroando a sua alma namorada.
19
E íamos cum passinho moi lento,
penteando nossos cabelos ò vento.
Dipois um trote co meu peito ardendo.
20
Polo lombo, sentia-lhe o coraçom,
que ao querer-lho bicar, sairom-lhe ás,
entom botou-se ò galope bulindo.
21
Com aquel empuxe comezou a voar
e de súpeto vim-me num ceo novo,
onde choviam flores alecrinas.
22
As ás tornarom-se-lhe amarelas
e pousou-se num ribeiro deitada.
Apareceu Deusa e bicou meus beiços.
23
Entom espertei daquel longo sonho
i eras ti espida na minha beira.
Nom soubem se sonhava o era certo.
24
Dipois eu sentim a tua aperta e morrim
e ja nos teus divinos braços caim,
a um Mundo Novo marchava contigo.
25
Quigera darche o espírito duma égua Nai,
da Nai da libertade deste Mundo,
a força que tem a Nai do Universo.
***
Nogueiró, Agosto de 2006
Moradelha editora