Galha XV : A águia dourada

 

A águia dourada


Atrás quedou meu inferno,
loito agora polo ceo,
intento cantar-te em sonhos
e sai-me um falsete ao ver-te.

Sonho cuma sinfonia
e sai-me um poema torpe,
sintindo-me enfurrunhado,
ao pé dum salgueiro atado.

Cum sedenho arrodeado
e cumha ponla na boca.
Duas galhas no pescozo,
co corpo paralizado.

Grandíssima águia dourada
aparece-me no ceo,
toda ela em lume envolta,
sacar-me do pesadelo.

Os seus olhos moi ardentes
reventam as cordas todas
i envolvendo-me nas suas ás
à minha vida devolve.

E sinto que podo berrar
que a minha voz turra e medra,
que podo chamar por ela,
que já nom tenho falsete.

Sinto o meu eco bem forte 
polos vales e montanhas.
A minha voz penitente,
fai que tremem as árvores.

Erguendo-se um gram vendaval,
fai garular òs paxaros
e removendo nas nuvens,
um vento de trevoada.

No cabo de Home atopei-me,
sol-pór de lume marelo,
onde alguém colheu-me da man,
alguém que sabia meu nome.

Falou-me ao ninho da orelha
e trepando caracolas,
fomos ata o médio do Mar
a ilha do penedo branco.

Era de mármore boreal
e havia duas gaivotas
que nom paravam de piar,
suspensas no ar jogando.

Amossavam-me no ceo
à minha águia dourada.
O tesouro que eu buscava
cara mim vem em picado.

Colheu-me de revoada,
pousou-me a modo no lombo.
Eu no seu cocho de plumas,
meninho no colo da Nai.

Envolveu-me no seu corpo,
coma se fora minha alma.
Marchamos voando polo Mar
com rumo ao Cabo do Mundo.

***







Moradelha editora